Mediação escolar é cada vez mais urgente e necessária nas instituições de ensino

por Rita Andréa Guimarães

Hoje temos ciência que a prática de atos de violência, sejam eles físicos ou psicológicos, intencionais e repetidos, podem gerar diversos transtornos que precisam ter um olhar cuidadoso e empático em relação ao sofrimento que isto causa em quem sofre o bullying.

O bullying é crime no Brasil, e o que antes era considerado apenas brincadeira de criança, sem más intenções, hoje pode resultar em crianças e jovens que, dentro de um ciclo de violência, estão respondendo também com atos de violência aos ataques que sofrem; devolvem na mesma moeda ou resolvem fazer justiça com as próprias mãos.

É preciso romper este ciclo. Hoje temos ciência que a prática de atos de violência, sejam eles físicos ou psicológicos, intencionais e repetidos, podem gerar diversos transtornos que precisam ter um olhar cuidadoso e empático em relação ao sofrimento que isto causa em quem sofre o bullying. Seja atacando quem cometeu bullying ou tirando a própria vida, a vítima de bullying torna-se o algoz, pois, às vezes incompreendida dentro da própria casa, na escola e em outros ambientes de convivência, começa a adotar comportamentos e pensamentos de vingança ou autoextermínio. Se está certo? Não!   

Contudo, o sofrimento advindo deste tipo de comportamento, infelizmente cada vez mais recorrente nas instituições de ensino, é como um efeito dominó: pessoas que não tinham qualquer relação com o fato, são mortas, feridas. Estudantes e docentes passam a carregar consigo o medo e o trauma, pais perdem a confiança na escola e cada um, à sua maneira, começa a procurar e apontar quem seria o responsável por tudo isso.

Quem é o culpado? Quem deve ser punido? Por que não puderam prever e impedir o ataque? Por que escolher matar, ferir, aterrorizar? Estas e outras perguntas é o que todos nós estamos fazendo desde ontem (27/03), quando um aluno de 13 anos atacou professores e alunos de uma escola em São Paulo, resultando na morte de uma docente de 71 anos.   

Milhares de notícias circulam na mídia e redes sociais, quase todos tentam costurar passado e presente do autor, o qual havia sido transferido de escola por conta do histórico de violência. Ainda não sabemos se algum acompanhamento psicológico foi dado ao agressor e nem como são suas relações para além dos muros da escola. Fato é que a escola tem se tornado um ambiente opressor, onde os alunos têm medo de frequentar às aulas, os professores chamam a atenção de um aluno por indisciplina e, como resposta, sofrem agressão verbal ou física, no mínimo.   

Nesse contexto, a mediação escolar é uma ferramenta indispensável para auxiliar os educadores na resolução dos conflitos, evitando a ocorrência de situações mais graves como este triste caso.  A mediação nas escolas busca incentivar o diálogo e a empatia entre os alunos e todos os envolvidos no ambiente escolar; oferecendo lugar de fala e de escuta para todos, sempre praticando a comunicação não violenta. Conflitos sempre irão existir e a mediação auxilia na comunicação assertiva, quando os envolvidos não conseguem soluções pacíficas entre eles sem a participação de um terceiro, no papel de mediador.   

O ambiente familiar é a base da formação comportamental de crianças, jovens e adolescentes. Pais e responsáveis têm tentado se aproximar mais dos filhos para ser apoio, conforto e, por mais que a rotina e a realidade das pessoas sejam distintas, ainda estamos criando pessoas para o mundo e é necessário que sejamos um elemento dentro do suporte que nossos filhos precisam.

Estreitar os laços com esta geração, pode ser difícil, mas os pais estão tentando entender também como as coisas funcionam hoje. A escola é a outra ponta que precisa estar alinhada, pode ajudar convocando ao diálogo, às perguntas, à nossa inquietação diante de fatos como este, que tanto nos entristece; buscando ouvir os alunos, entendê-los e intervir dentro do que cabe à instituição de ensino.

Com ações que dão lugar de fala e pertencimento ao aluno, validando suas angústias, medos e anseios, é possível evitar que o conflito chegue a um ponto extremo, pois auxilia na solução do problema entre os envolvidos. Os educadores precisam estar cada vez mais preparados para lidar com conflitos no ambiente escolar. A escola é um complemento, uma peça da engrenagem. Desse modo, a mediação se faz, urgentemente, ser levada para dentro das salas de aulas, sobretudo para quem precisa se comunicar sem conflitos e, tampouco, com violência. 

fonte: Migalhas